terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Coisa de Menina

Quando nasci, minha mãe me deu o nome da minha bisavó, figura feminina da qual todos se orgulhavam.
Mãe, avó e esposa exemplar, bisa Eliza levou um casamento até o fim, como manda os bons costumes do matrimônio “perfeito”: ‘Até que a morte os separou’. Sofreu ameaças, agressões e gritos de um marido agressivo e alcoólatra.  Mas, “como deve ser”, nunca cogitou uma separação.
Doce, bondosa, religiosa, mãe de oito filhos. Assim era a mulher que inspirou meu nome.

Já nos primeiros dias de vida, ganhei pulseira de ouro e um par de brincos. Coisa de menina.
Antes mesmo de aprender a falar, já tinha dezenas de bonecas. 
Minha mãe gostava de fotografar cada passo meu, e, para isso, contratava um fotógrafo profissional. Trocas de roupa, penteados e vários batons a cada foto.
Tive coleção de Bonecas Barbie, milhares de roupinha, sapatinhos, bijuterias...  Tive todas as coisas de menina.

Minha avó me proibiu de brincar na rua o quanto pode. Porque isso não era coisa de menina.
Menina tinha que brincar em casa. Com as amiguinhas. De casinha, comidinha, mamãe e filhinha!

E assim foi. Até meus onze anos.
Foi aos onze que descobri a rua. Foi aos onze que descobri que além das panelinhas, havia um mundo de brincadeiras e diversão!
Foi quando descobri as trilhas de bicicleta, os inúmeros ‘piques’, o jogo de Taco, bolinha de gude e o rolimã.
Foi quando percebi que eu era flamenguista e o que isso de fato significava. Foi quando eu descobri o que era um pênalti e um gol olímpico.

Anos depois, grávida, vi minha vida se encaminhar sem que eu me desse conta. Perdi as rédeas e as coisas aconteceram, simplesmente.
Montei casa, me mudei e voltei a brincar de casinha!
Uma brincadeira que me sufocava a cada dia.  Daquelas que dá vontade de guardar tudo numa caixa e não brincar nunca mais. Deixar lá no alto do guarda-roupa,  até mofar e ir pro lixo.

Não durou muito. Não havia como durar.

Levou tempo, mas hoje entendo com perfeição. Eu não cabia naquele lugar, naquela vida. Aquela brincadeira já não me servia mais. Eu queria as trilhas e o rolimã!

Separei. 

Queria trabalhar em algo que pudesse fazer diferença na vida das pessoas. Estudei, me formei.

Hoje, sou Pedagoga, com dois empregos públicos, e mãe do Arthur, com oito anos.
Nenhum marido.

Não lavo, não passo, não cozinho, não limpo!
Sou um desastre para encontrar coisas, e um maior ainda para manter arrumações.
Esqueço roupa no chão do banheiro, toalha molhada em cima da cama, sapato no meio do caminho!  Tomo iniciativa em relacionamentos, pago a conta, pego o telefone, no fim da noite, sou eu quem vou pra casa!

Minha avó tem Alzheimer avançado. Quase não reconhece ninguém. Mas, ao me ver, sempre pergunta: “Quando você vai casar?” Disso não se esquece... 
Lido com olhares de lamento de amigas, que torcem para que eu me case,trabalhe menos, tenha mais filhos...
Hoje sei que posso me casar sim, mas que isso não implica em voltar a brincar de casinha. A certeza de que não preciso mais das panelinhas, me traz leveza.

De minha bisa, apenas o nome. Dos ensinamentos da infância, a certeza que posso ser o que eu quiser.

Entre bonecas e rolimãs, futebol e novela, sigo sendo o que sou, sem necessidade de aceitação externa e com a certeza que nada disso me faz menos ‘menina’. Pois sei que coisa de menina é tudo aquilo que ela quiser!



sábado, 1 de fevereiro de 2014

Assim seja...

Case-se com quem se embebeda de cada vírgula por ti proferida. E que, ao final, lhe dê motivos para nunca deixar de falar.

Aquele cara que te ouve com os olhos, e se deixa hipnotizar por suas ideias. Aquele que não se intimida ao te contrariar. Que te convence quando está equivocada e te faz rir de suas próprias neuras.


Queira aquele que te diverte, arranca gargalhadas nos momentos impróprios, e enxuga suas lágrimas quando não há como impedi-las. 


Aquele que te abraça como se fosse pela última vez e te beija sem você precisar pedir!

Case-se com aquele que sabe que você não depende dele, mas se faz “precisado” de um jeito que você nem percebe...

Aquele que te acha linda de pijama, cabelo despenteado e cara emburrada.

Aquele cheio de defeitos, que te irrita vez ou outra e que te faz ignorar tudo no instante seguinte!

Aquele cara que te faz esquecer-se de todos os outros que já passaram na sua cama... Que te enlouquece e aprova todas as suas loucuras!

Case-se com quem te faz entender que príncipes encantados não existem e que você não precisa mais sonhar com eles, visto que a realidade te basta. Pra sempre!






Nove de Janeiro

Não precisavam de palavras. O silêncio lhes caía muito bem. 

Na falta da primeira, sorrisos. Na presença do segundo, olhares.


Entre códigos e enigmas tão próprios, traçaram uma realidade paralela. 


Não mais cabia ninguém.


Ele entendia as neuras dela. Ela sorria das graças dele.


De clichê em clichê, driblaram utopias...


Era pra sempre. Era eterno. 


Hoje as certezas se misturam com
 as lembranças.

As esperanças já não servem mais.

Era pra sempre. Até aquela madrugada!